domingo, 12 de setembro de 2010

Um exemplo de vida

Não lembro quando começou o meu amor pelos animais, em especial por cachorros. Mas me recordo que, durante a adolescência, em Ponta Grossa, Paraná, minha mãe recolhia cachorros atropelados e, muitas vezes, eu e ela levantávamos de madrugada para lhes dar analgésicos.

Já casada, certa vez, vi um cachorro entrando num ônibus em frente à minha casa. Achei que estava tendo alucinações, mas minha filha garantiu que ele entrara mesmo. Peguei meu carro e o seguimos. E vimos quando o cãozinho desceu. A partir daquele dia, Bob (assim minha filha o batizou) passou a ser o nosso cão "especial" e o orgulho de todos: o cachorro que andava de ônibus.

Ele também era a paixão de muitos motoristas da empresa de transporte coletivo, que o apelidaram carinhosamente de Marmita.

Depois de um ano, Bob morreu, atropelado, ironicamente, por um ônibus. Chorei desesperadamente durante uma semana. Então, uma amiga que fazia parte do Grupo Fauna (uma ONG protetora de animais da minha cidade) perguntou se eu não queria cuidar do Gandhi, um cãozinho de pelo castanho, de olhos e orelhas grandes, que havia sido atropelado e perdera parte da pata esquerda. Seu dono se recusara a custear o tratamento e pedira a um veterinário que o sacrificasse.

É claro que o Dr. Álvaro não concordou, e dias depois lá estava Gandhi em minha casa sob protestos do meu marido. Por um mês cuidei da sua pata, que necrosou e precisou ser amputada. Isso ocorreu em junho de 1999. Gandhi, que não era adepto da "não violência", continuou fugindo quando via o portão aberto, correndo atrás de tudo o que tivesse rodas, atropelando cachorros e brigando com as pessoas. Mas passou a ser nosso xodó. Por onde passava, chamava a atenção: "olha o cachorro de três patas!"

Infelizmente, em maio de 2006, um vizinho irresponsável passou por cima dele em frente à minha casa e destruiu sua pata dianteira direita. Foi terrível, meu filho gritava desesperadamente e conseguiu retirá-lo das rodas do carro que saiu em disparada. Nas noites seguintes, meu filho e eu dormíamos no sofá da sala, acariciando a cabecinha do Gandhi e lhe dando analgésicos, trocando seus curativos e o paparicando.

Gandhi se restabeleceu e passou a ser a atração da minha casa. Um dos canais locais de TV veio fazer uma reportagem sobre o cãozinho que não tinha braços. Passamos a ser, Gandhi e eu, conhecidos na cidade. Algumas pessoas o chamavam de "canguru", pois ele passou a andar em pé, pulando nas patas traseiras ou andando quase encostando o peitinho no chão (fizemos uma prótese para ele, mas não houve adaptação). Ele é um exemplo de coragem e determinação, e nos faz refletir que sempre vale a pena lutar, sejam quais forem as dificuldades e limitações.

Por isso nós sentimos muito orgulho dele. Gandhi nunca se deprimiu. Continuou feliz, correndo, ficando em pé quando quer bolo (ele adora bolo inglês) ou algum petisco. Acredito que, como nós, os animais têm personalidade própria e diferenciada e aprendem a reagir às dificuldades da vida. Gandhi é um exemplo disso.

Hoje, com seus 13 anos, aproximadamente, continua muito dengoso; só come se pusermos a comida nas mãos e levarmos até seu focinho, caso contrário fica o dia todo sem comer. Adora um chamego e faz aquela cara de "coitadinho" quando quer subir no colo.

Gandhi não entrou por acaso em nossas vidas. Graças a ele, passei a fazer parte do Grupo Fauna, bem como meus filhos, e a defender os animais abandonados e vítimas de maus-tratos. Comecei a trabalhar também conscientizando as pessoas a respeitar e amar os animais.

Vilmarise S. Pessoa
A S D A N - Associação Sandumonense em Defesa dos Animais
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