domingo, 9 de janeiro de 2011

Uma chance de viver

Próteses ajudam bichos amputados e servem como laboratório para humanos
Roberta de Abreu Lima

Animais que sofrem amputação de membros do corpo quase sempre são sacrificados – é a forma encontrada para evitar que tenham uma sobrevida de dor e sofrimento. A história dos animais nessa situação está mudando. O desenvolvimento de próteses feitas de material leve e flexível, aliado à descoberta de métodos mais eficientes para encaixá-las, dá novas perspectivas de vida aos bichos amputados. Mais importante que isso, oferece aos cientistas a oportunidade de estender seu campo de aplicação aos seres humanos. "O progresso na área de próteses veterinárias é hoje de extrema utilidade para o aperfeiçoamento dos modelos usados por pessoas", disse a VEJA o francês Denis Marcellin-Little, professor de medicina veterinária na Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.

Devido às diferenças biológicas entre os bichos, cada caso de amputação é um novo desafio para os cientistas. Demorou um ano e meio para que um grupo de veterinários desenvolvesse uma prótese para a águia Beauty, encontrada num bosque do Alasca com parte do bico arrancada por um tiro e incapaz de se alimentar sozinha. Abrigada numa reserva para pássaros, Beauty recebeu na semana passada uma prótese de náilon colada no bico. Nos próximos meses, ela vai ganhar um modelo mais resistente, de titânio, que lhe proporcionará mais independência. Desenvolver uma prótese para um elefante, pode-se imaginar, é tarefa complexa. Tanto que a elefanta tailandesa Motala só ganhou um modelo – ainda provisório – seis anos após pisar numa mina terrestre e sofrer a amputação da pata dianteira esquerda. Feita de lona e serragem, a prótese pesa 10 quilos e é presa ao corpo por uma atadura. Os veterinários já estão trabalhando em um modelo mais leve, de fibra de vidro e silicone, para substituí-la.

Graças aos progressos no campo de próteses para animais, dois golfinhos voltaram a nadar recentemente. O japonês Fuji, que vive num aquário, perdeu 75% da cauda devido a uma doença desconhecida. Ganhou uma prótese de borracha, fixada com a ajuda de parafusos e de um reforço plástico. Já Winter, que vive no Aquário Clearwater Marine, na Flórida, perdeu a cauda inteira ao se machucar numa armadilha para caranguejos. Para encaixar sua prótese, foi necessário produzir uma espécie de gel especial para criar sucção entre o objeto e o corpo do animal. Funcionou tão bem que o produto foi recomendado para um soldado americano que sofria de infecções recorrentes no local de sua prótese. Deu certo.

A técnica mais promissora que está sendo testada em animais com vistas ao uso em humanos é a chamada integração óssea. O procedimento consiste em implantar uma placa de titânio na ponta do osso e nela encaixar a prótese. Dessa forma a conexão entre o corpo e a prótese fica mais firme e evita-se a dor causada pelo atrito, comum em modelos apenas encaixados. Alguns humanos já se submeteram a esse implante, mas verificou-se um alto risco de infecção nos ossos. Por enquanto, uma bateria de testes com a integração óssea está sendo feita em cães, com bons resultados. As próteses em animais são feitas de forma experimental. No futuro, com o aperfeiçoamento das técnicas e dos materiais usados, será possível recorrer ao veterinário da esquina para salvar o cachorrinho que foi atropelado e perdeu a pata.

Bico novo em folha
Fotos Young Kwak/AP

A águia Beauty como foi encontrada num bosque do Alasca, com parte do bico arrancada por um tiro, e depois da aplicação da prótese. À direita, pesquisadores americanos finalizam o implante

Acidente no campo
Erik S. Lesser/Getty Images
O cão Maulee, que vive na Geórgia, Estados Unidos: a pata, arrancada por uma ceifadeira de trigo, foi substituída por uma prótese de madeira e fibra de carbono

De volta à piscina
Fotos Yuriko Nakao/Reuters

O golfinho Fuji em seu lar, um aquário no Japão: prótese feita de borracha (no detalhe) substitui a cauda, perdida devido a uma doença desconhecida

Para pesos pesados
Wichai Trapw/AP

A elefanta tailandesa Motala: ela perdeu a pata ao pisar numa mina. Agora, voltou a andar com um implante feito de lona e serragem. Logo vai ganhar um de fibra de vidro e silicone

Reportagem da Revista Veja

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